Era só mais uma noite de sexta…
Aquele clima de início de final de semana, o ar da noite reforçado pelas luzes de Led dos apartamentos que parecem uma linda constelação, refletidas no mar e vistas da sacada do apartamento.
Parece que durante o dia o chão acumula toda a vida do sol, a correria das pessoas, o abalo dos motores que passam a alta velocidade nas ruas, capta toda vida que passa por ele e aos poucos vai liberando essa energia conforme o avanço das horas.
É o meu horário favorito. Os escritores chamam de lusco fusco, crepúsculo vespertino… Talvez seja porque, quando estava em operação militar na Maré, era o momento em que terminava a ordem para o pelotão e o início da missão. Mas também é o momento em que os tons e cores tomam conta do céu e deixam o tom da pele dela mais forte, o momento em que nos despedimos das cores e abraçamos enfim as trevas.
A poluição sonora e frenética do dia dá lugar ao sensual som da vida na noite, embalados em um Jazz leve e suave reproduzido em um toca discos antigo, ainda a válvulas, toando a trilha sonora de meu filme noir.
Mas hoje não estou com um fuzil nas mãos, nem de frente a dois toca discos Technics Mk2 tocando para uma multidão onde a maioria de quem me escuta tem a metade da minha idade e muito menos estou na selva procurando um bom lugar para acampar longe de formigueiros ou trilhas de cobras… Hoje estou em boa companhia.
Como num tango argentino, em um apartamento localizado à frente da linda praia de Icaraí estão eu, um maravilhoso charuto cubano Montecristo, uma garrafa pela metade de Jack Daniels Tennesse Honey e ela, tão linda e complicada, a única fonte de meus deliciosos problemas.