Atualizado em 29 de julho de 2021
Era dezembro de 1944, já estava próxima a rendição do exército Alemão, que sinalizaria o final da segunda guerra mundial.
O oficial da inteligência Japonesa Hiroo Onoda é enviado à ilha de Lubang, nas Filipinas. Sua missão, passada a ele pelo Major Yoshimi Taniguchi, era de ocupar a ilha, proteger o local de ataques e não se rendesse de maneira alguma. Ele deveria permanecer no local até que o Exército o avisasse. Um trecho da nota, em uma tradução livre, dizia que:
“Isso pode levar três anos, pode levar cinco, mas aconteça o que acontecer, nós vamos voltar até você.”
Quem diria que Onoda iria cumprir essas ordem até as últimas consequências?
Quando enfim estava as Filipinas, Onoda viu a ilha onde estava para ser invadida por tropas inimigas e de imediato mandou aeroporto e o porto locais, ordens que foram recusadas por alguns oficiais ao seu comando. Com estas portas de entrada disponíveis, a ilha foi tomada pelo aliados e estes entraram em combate com os soldados japoneses, divididos em grupos e espalhados. Aos poucos esses soldados começaram a morrer nos confrontos, mas a pequena tropa de Onoda continuava com suas estratégias de guerrilha e sobrevivência.
Em outubro de 1945, Onoda e seus soldados ouviram alguém anunciando, aos gritos, que a guerra havia acabado, pedindo para que todos os soldados se apresentassem. Onoda pensou que o aviso era, na verdade, uma armadilha. Como eles não sabiam nada a respeito das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagazaki, para ele não fazia sentido que o Japão se render tão rapidamente (todos os Japoneses, do camponês ao imperador, tinham jurado lutar até a sua última gota de sangue).
Após algum tempo, um avião sobrevoou a ilha e jogou alguns folhetos para informar aos soldados restantes que haveria mais uma tentativa de resgate. Onoda, mais uma vez, desconfiou da veracidade das informações.
Houveram várias distribuições aéreas de folhetos, e jornais, com notícias a respeito do fim da guerra, além de fotografias e cartas escritas pelos familiares dos soldados. Feito esse contato, alguns delegados de guerra chegaram a entrar na ilha, pedindo para que os soldados escondidos aparecessem, contando sobre o fim da guerra em alto-falantes.
Mesmo assim os anos foram passando e a pequena tropa de Onoda, formada por ele e mais três soldados sob seu comando, continuou escondida. Com o passar do tempo, mesmo vendo que outras pessoas estavam circulando livremente, usando roupas comuns, Onoda continuava a achar que se tratava de uma tentativa de sabotagem.
Por fim, dois membros do grupo de Onoda se entregaram, restando ele e apenas mais um companheiro. Os dois viveram escondidos por mais 17 anos. Eles ainda acreditavam que, eventualmente, mais tropas inimigas apareceriam para confronto.
Após 27 anos de fuga, o parceiro de Onoda morreu durante uma briga com uma patrulha filipina. A morte deste soldado serviu de alerta ao governo japonês, que acreditava, até então, que todos os soldados ou tinha sido resgatados ou estavam mortos.
Enfim, em 1974, Onoda foi achado por um estudante que, decidiu viajar para alguns lugares do mundo. Segundo o rapaz ele a viagem às Filipinas tinha três propósitos: encontrar um panda, o lendário tenente Onoda e o abominável homem das neves.
Pelo menos o tenente ele encontrou.
Como bom soldado do império, Onoda se recusou a acompanhar o estudante, pois em suas ordens seu major comandante havia dito que voltaria para buscá-lo, independente do que acontecesse (mesmo tendo passados há 29 anos).
O estudante voltou ao Japão e procurou o comandante Major Taniguchi. Por uma sorte ele ainda estava vivo, aposentado e trabalhava em uma livraria. Taniguchi foi até Onoda e contou que a guerra, de fato, havia acabado. Ele estava finalmente liberado para voltar ao Japão.
A missão estava cumprida.
Onoda ficou revoltado ao analisar o que passou e pensar no tempo que perdeu, escondendo-se de inimigos que nem mesmo existiam. Em nota, ele disse que:
“Me sinti um tolo, tudo à minha volta estava negro, era como em uma tempestade.”
De volta ao Japão, Onoda virou herói pela dedicação que demonstrou ter com o seu país. Ele também recebeu o pagamento relativo aos 30 anos de trabalho. Com dificuldades de se adaptar à sua nova realidade, mudou-se para o Brasil em 1975 e com o dinheiro que recebeu comprou uma chácara e se casou, embora vivesse viajando de volta, segundo a agência France Presse.
Ele também escreveu um livro a respeito dos seus 30 anos de guerra.
Alguns anos depois, em 1984, Onoda voltou ao Japão, onde criou uma escola para ensinar técnicas de sobrevivência e independência aos jovens de seu país. Em 1996, ele retornou às Filipinas e doou US$ 10.000 para escolas locais. Em uma de suas frases mais famosas, Onoda afirmou:
“Os homens nunca deveriam desistir. Eu nunca desisto. Eu odiaria perder.”
Onoda foi o penúltimo de muitos dos chamados “holdouts” repartidos por vários países do sudeste da Ásia, homens que simbolizavam a assombrosa e absoluta perseverança de quem foi chamado a lutar por seu imperador.
Hiroo Onoda faleceu em 2014 na cidade de Tóquio. O governo do país expressou suas condolências elogiando Onoda por seu forte desejo de viver.
Viveu até os bons 91 anos. Viveu uma boa vida.