O ser humano é uma criatura social, e como tal, temos uma necessidade natural de pertencer e ser aceitos pelos outros. Essa necessidade pode nos levar a nos preocupar em agradar os outros, mesmo que isso signifique agir de forma incoerente com nossos valores ou a nos afastarmos de quem realmente somos.
Se sua ação não é correta, é melhor evitá-la completamente. Porém, se for apropriada, por que temer aqueles que injustamente vão repreendê-lo?
Você já deve saber que não é possível agradar a todos. Na prática, lidar com o fato de desagradar pode ser difícil. Em geral, os seres humanos sentem essa necessidade de agradar para serem aceitos e evitar conflitos. Por outro lado, há pessoas que parecem se deleitar em desagradar e incomodar, o outro extremo. Elas acreditam ter sempre razão, agindo com brutal sinceridade, sem considerar o impacto social ou a empatia.
Talvez você conheça alguém assim, alguém que está sempre contra, independentemente da situação. Essas pessoas podem ser verdadeiramente perturbadoras. Talvez até você mesmo seja um pouco dos dois tipos.
Por mais que pareça certo, não é bom ser um pouco dos dois, agradar demais em um momento e ser o chato no outro. Esse não é o ponto de equilíbrio ideal.
Como se manter no equilíbrio?
Não busque oscilar entre os extremos, vá pelo seu próprio caminho, onde reside a sua virtude. Desvios inevitáveis aos extremos são humanos, porém nossa meta deve ser permanecer o máximo possível em equilíbrio.
Encontrar equilíbrio não é desconsiderar a opinião alheia, mas priorizar a ação correta sobre o mero desejo de agradar a todos. Compreender que as ações dos outros refletem sua própria visão do que é correto é libertador. Focar na prática do bem, mesmo que desagrade alguns, é fundamental para manter a autenticidade e a virtude como pilares do nosso estilo de vida.
A chave é o pensamento do filósofo Epiteto:
“Não se preocupe em agradar ou desagradar os outros, mas em fazer o que é correto.
-Epiteto”
Se você faz algo porque considera que deve ser feito, não evite ser visto fazendo-o, mesmo que as pessoas que convivem com você o condenem.
Segundo nossos ensinamentos estoicos,
“Quando alguém age mal ou fala mal de você, lembre-se de que faz isso porque acredita que deve fazê-lo, não porque você mereça.
-Epiteto”
Isso nos permite ser mais tolerantes com aqueles que nos prejudicam.
“É o que eles acham de você, e você não tem controle sobre isso.”
Não adianta nos incomodarmos com a opinião alheia. Concentre-se no que está ao seu alcance.
“Deixe seu impulso de agir e sua ação terem como objetivo o serviço da comunidade humana, em conformidade com sua natureza.
-Marco Aurélio”
Nuca se deixe conduzir pelas expectativas externas e não dê atenção exagerada ao que os outros esperam ou pensam de você. Esteja aberto a críticas construtivas, mas não se deixe moldar por elas.
“Recusar-se a ser moldado pelas expectativas alheias é vital para manter nossa integridade.”
O autoconhecimento é crucial. Ele é a nossa armadura contra interferências externas, permitindo-nos agir em consonância com nossa verdadeira essência.
“Se vier a acontecer de você ser conduzido para as coisas externas de tal maneira que você deseja agradar uma outra pessoa, saiba que você perdeu o plano da sua vida.
– Epiteto”
Lidar com críticas injustas exige autocrítica e honestidade. Assumir nossas falhas é essencial, pois todos temos mais defeitos do que pensamos. Não se defender diante de críticas injustas demonstra a irrelevância daqueles que nos ofendem gratuitamente.
Se lhe contaram que falam mal de você, não se defenda. Basta responder: “Se eles soubessem de todos os meus defeitos, teriam falado muito mais que isso.”
-Epiteto”
Devemos sempre buscar fazer o bem, pois somos parte de uma mesma comunidade. Não espere reconhecimento ao agir corretamente. Buscar a virtude deve ser natural e parte do nosso estilo de vida. Agir de forma correta é fundamental para vivermos uma vida autêntica e alinhada com nossos valores. Quando agimos de forma correta, estamos fazendo o que é certo, mesmo que isso não agrade a todos.
Não permita que as forças externas desviem você do seu caminho. Não se guie pelo que os outros esperam de você, mas sim pelo que você sabe ser certo. O autocontrole e a busca pelo conhecimento de si mesmo são fundamentais para filtrar influências externas.
Esses são os pensamentos históricos que nos fazem refletir sobre a necessidade de agradar os outros. Lembre-se, a busca pela virtude é constante.
Como usar esses ensinamentos de forma prática?
A importância de não se preocupar em agradar ou desagradar
pense em alguém que está tomando decisões sobre sua carreira. Em vez de tentar seguir um caminho que agrade a todos ao seu redor, essa pessoa opta por seguir seus interesses e paixões pessoais. Ela escolhe uma área de estudo ou uma carreira que realmente a motiva, mesmo que isso possa desagradar algumas pessoas próximas, como pais, amigos ou colegas.
Essa decisão pode não ser compreendida ou aceita por todos, mas a pessoa está priorizando sua própria realização e felicidade. Ao seguir seu próprio caminho, ela tem mais chances de encontrar satisfação e sucesso no longo prazo, porque está investindo tempo e energia em algo que verdadeiramente a apaixona e motiva, em vez de tentar se encaixar em expectativas externas.
A importância de respeitar as opiniões dos outros
É importante respeitar as opiniões dos outros, mesmo que não concordemos com elas. Isso não significa que devemos concordar com tudo o que os outros dizem, mas significa que devemos ouvi-los com atenção e tentar entender seu ponto de vista.
Imagine que você está em uma discussão com um amigo sobre um assunto polêmico. Vocês têm opiniões diferentes sobre o assunto, e vocês estão começando a ficar irritados.
É importante que você respeite a opinião do seu amigo, mesmo que você não concorde com ela. Você pode dizer algo como: “Eu entendo que você pensa de forma diferente, e eu respeito sua opinião.”
A importância de não se deixar levar pelas expectativas dos outros
Não devemos nos deixar levar pelas expectativas dos outros. Se fizermos isso, acabaremos agindo de forma inautêntica e nos afastando de quem realmente somos.
Imagine que você é um adolescente e seus pais querem que você estude engenharia. Você não quer estudar engenharia, mas você sabe que seus pais ficarão desapontados se você não estudar o que eles querem.
Se você se deixar levar pelas expectativas dos seus pais, você pode acabar estudando engenharia, mesmo que você não goste. Isso pode levar a problemas no futuro, pois você pode não ser feliz com a sua carreira.
A importância de aceitar as críticas
É importante aceitar as críticas de forma construtiva. As críticas podem nos ajudar a melhorar e a crescer como pessoas.
Imagine que você está dando uma apresentação no trabalho. No final da apresentação, um colega lhe diz que você poderia ter feito melhor.
Em vez de se sentir ofendido ou irritado, você pode dizer algo como: “Obrigado por sua crítica. Vou levar isso em consideração para a próxima vez.”
Conclusão
Ao adotarmos uma postura de não se preocupar em agradar ou desagradar, podemos viver de forma mais autêntica e alinhada com nossos valores. Isso nos permite construir relacionamentos mais saudáveis e gratificantes, e nos ajuda a encontrar a paz interior.
Para não se preocupar em agradar ou desagradar, é importante:
- Conhecer a si mesmo. O que é importante para você? O que você acredita? Quando você sabe quem você é, fica mais fácil tomar decisões que são alinhadas com seus valores.
- Ser honesto consigo mesmo. Seja honesto sobre o que você quer e o que você acredita. Não tente ser alguém que você não é, pois isso só vai levar a infelicidade.
- Ser respeitoso com os outros. Mesmo que você não concorde com a opinião dos outros, você deve respeitar o direito deles de ter uma opinião diferente.
- Não ter medo de ser você mesmo. Não tenha medo de expressar suas opiniões, mesmo que elas sejam diferentes das de outras pessoas. Não tenha medo de tomar decisões que são importantes para você, mesmo que elas não sejam populares.
Aqui estão algumas dicas específicas para implementar essas recomendações:
- Dedique tempo para refletir sobre seus valores e crenças. O que é importante para você em termos de relacionamentos, carreira, espiritualidade, etc.?
- Seja honesto consigo mesmo sobre o que você quer da vida. Quais são seus sonhos e objetivos?
- Pratique a autoaceitação. Reconheça suas qualidades e imperfeições.
- Exercite a empatia. Tente entender o ponto de vista dos outros, mesmo que você não concorde com ele.
- Seja paciente consigo mesmo. Mudanças de comportamento levam tempo.
Lembre-se, não se preocupar em agradar ou desagradar é uma jornada, não um destino. É um processo de autoconhecimento e autoaceitação que pode levar a uma vida mais feliz e plena.
Referências:
- Epíteto (século I d.C.). Discursos. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.
- Marco Aurélio (161-180 d.C.). Meditações. Tradução de Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Martin Claret, 2008.
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