Você já parou para se perguntar se está mais inclinado à visão do “red pill”, “blue pill” ou “black pill”? Ou quem sabe se você se encaixa no perfil de um alfa, um sigma? Talvez até se identifique mais com a ideia de ser “raiz” ou “Nutella”. São tantas categorizações que às vezes fica difícil discernir se você é considerado uma pessoa valorizada pela sociedade ou se é alguém marginalizado.
A sociedade contemporânea é um mosaico de identidades e filosofias que frequentemente colidem e se entrelaçam, criando uma teia complexa de interações e percepções. No cerne dessa teia, encontram-se conceitos como Red Pill, Blue Pill, Black Pill, Clown Pill, e as designações Alpha, Omega, Sigma, Beta. Esses termos, embora muitas vezes envoltos em controvérsia e mal-entendidos, oferecem uma lente através da qual alguns indivíduos tentam decifrar e navegar as complexidades das relações sociais.
Desde o início da humanidade o ser humano possui essa tendência inata de classificar e rotular seus semelhantes, seja para reforçar suas próprias convicções ou para encontrar seu lugar na hierarquia social.
Em nossa sociedade existem diferentes estratos hierárquicos, onde alguns obedecem e outros dão as ordens. Mesmo aqueles que estão no topo da hierarquia, precisam obedecer a outros que detêm ainda mais poder. Não há uma regra clara sobre como a autoridade é estabelecida. Ao observar um grupo de amigos, é possível perceber que existe alguém que se destaca como líder. Essa liderança é atribuída pelo próprio grupo, colocando essa pessoa acima dos demais. Assim, quando esse líder decide que todos sairão juntos no dia seguinte, os demais concordam, pois reconhecem sua posição de autoridade no grupo.
Essa dinâmica não se restringe a um único estrato social, mas permeia todos os níveis da sociedade. Ela reflete a natureza hierárquica inerente aos seres humanos. Somos seres sociais e, como tal, estamos naturalmente orientados a estabelecer hierarquias.
De fato, não há nada de novo nisso. Essa tendência permeia toda a história da humanidade. Anteriormente, as pessoas discordavam e se categorizavam por diversas razões: signos, visões de mundo, inclinações políticas, entre outras. Essa prática persiste até os dias de hoje. Na era da internet, essa dinâmica se manifesta de uma forma um pouco diferente, através de terminologias como as “pílulas” – red pill, blue pill, black pill, mas essa tentativa de trazer à tona esses termos para diferenciar as pessoas está sendo utilizando de uma maneira injusta e antiética. São termos extremamente carregados, que reduzem de forma significativa a complexidade da essência individual, e posiciona as pessoas de forma injusta na hierarquia social.
O perigo desse tipo de abordagem é que jovens com pouca experiência de vida e ainda em fase de aprendizado sobre responsabilidades básicas, tenham acesso indiscriminado as ideias dessa filosofia e comecem a rotular as pessoas ao seu redor. Eles podem olhar para um trabalhador na rua e rotulá-lo como “beta”, ou para um homem de terno em uma cafeteria sofisticada e considerá-lo um “alfa”.
Quando alguém se concentra demais em rotular os outros, acaba se desviando do autoconhecimento e leva a pessoa a negligenciar suas próprias qualidades. Além disso, isso cria uma falsa sensação de superioridade hierárquica, pois quem julga passa a se sentir superior.
Cada vez mais, vemos jovens que não contribuem de forma construtiva para a sociedade, sem experiência significativa, mas adotando uma postura de autoridade extrema, como se fossem capazes de compreender e classificar todo o espectro do comportamento humano. No entanto, é fundamental entender que não se pode reduzir a complexidade da essência humana a um único rótulo. A mente humana é incrivelmente complexa, influenciada por uma infinidade de fatores e reage de maneira diferente em diferentes contextos.
Um homem assume diferentes papéis em diferentes áreas da sua vida. Ele pode ser considerado um “beta” no trabalho, mas se ele for um líder em sua religião, nesse ambiente ele assume a postura de “alfa”. Talvez no condomínio ele assuma uma postura reservada, sendo classificado como “sigma”. Cada contexto o coloca em uma posição hierárquica distinta e demanda um conjunto específico de comportamentos e a personalidade irá variar em cada cenário.
Outro exemplo é a hierarquia entre mafiosos. Um homem pode ser o chefe em sua rua, mas no grupo dos mafiosos ele assume uma posição submissa ao chefe da família.
Como abstrair desses rótulos
Existem problemas que esse tipo de classificação mental pode trazer ao jovem. Um exemplo é quando alguém está tão obcecado em ser um “alfa” que recusa oportunidades de trabalho que considera abaixo de sua posição. Ele pensa:
“Eu sou um alfa, não vou ficar trabalhando como caixa de mercado.”
Assim, ele rejeita oportunidades de trabalho decente e passa a considerar que nenhum trabalho disponível é digno de sua presença, porque ele se vê como um líder nato.
Um rapaz que gosta de uma mulher que o trata bem pode acabar destruindo esse relacionamento por achar que sendo um “black pill” ele tem certeza que nenhuma mulher presta no mundo e se ele se relacionar com alguém os governos irão iniciar um plano para fazê-lo pagar a dívida de toda uma sociedade feminina.
É essencial se desintoxicar dessa loucura que parece dominar as redes sociais hoje em dia, que se tornam quase seitas em torno desses assuntos. Devemos focar em coisas que realmente beneficiem nossas vidas, e não ficar horas ouvindo pessoas dizendo como devemos ser para sermos “alfas” ou alcançarmos certas conquistas. Devemos nos concentrar no que realmente irá funcionar para as nossas vidas.
Em vez de se preocupar com categorias e hierarquias, concentre-se em se tornar uma pessoa melhor. Foque em cuidar do seu corpo, contribuir de forma produtiva para a sociedade, buscar oportunidades de trabalho ou em empreender, assim você será bem-sucedido em sua jornada, e isso é imperativo para construirmos uma sociedade de pessoas fortes, pois as coisas podem ficar ainda mais difíceis e não há espaço para fraqueza nesse mundo.